Déficit na capacidade de armazenagem de grãos causa desperdício, traz prejuízos ao produtor e impacta na qualidade dos alimentos
Perdas para a cadeia produtiva do país por falta de armazenagem chegam a R$ 30,5 bilhões em 2023
O Dia Mundial da Segurança dos Alimentos será celebrado pela quinta vez neste dia 7 para chamar a atenção e inspirar ações que ajudem a prevenir, detectar e gerenciar riscos de origem alimentar. No Brasil, o desperdício de grãos na cadeia de produção e distribuição é um dos grandes obstáculos para a segurança alimentar e o déficit na capacidade estática de armazenagem de grãos figura entre os problemas que impactam nessas perdas.
Segundo dados do estudo “A perda de grãos no Brasil e no mundo: dimensão, representatividade e diagnóstico”, divulgado neste ano pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2020 o Brasil desperdiçou 36,7 milhões de toneladas de grãos, o equivalente a 15% da safra de arroz, cevada, milho, soja e trigo daquele ano. O volume perdido seria suficiente para alimentar 11,2 milhões de pessoas durante um ano, o que representava 59% das pessoas que enfrentaram a fome no país no mesmo período, conforme o levantamento.
Paulo Bertolini, presidente da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem (CSEAG) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), explica que o desperdício acontece em todo o processo, desde a colheita, transporte, armazenagem até a distribuição, mas ressalta que o cenário da falta de estrutura adequada para a armazenagem de grãos vem piorando a cada ano e impacta na perda da qualidade dos grãos produzidos aqui.
“Acompanhamos ao longo de décadas o aumento da produção, com safras recordes, mas a armazenagem de grãos não acompanha esse crescimento. Isso continuará pressionando os preços das commodities para baixo, o que significa menor renda para o agricultor. Falta de armazenagem será um dos fatores para redução da velocidade de crescimento do agro brasileiro, infelizmente, e também resulta em desperdício de alimentos”, destaca.
Levantamento da Abimaq aponta que o déficit da capacidade de armazenagem de grãos deve chegar a 118,5 milhões de toneladas neste ano, quase 38% do total da produção, estimada em 312,5 milhões de toneladas. De acordo com a consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, as perdas para a cadeia produtiva do país por falta de armazenagem chegam a R$ 30,5 bilhões em 2023.
Faltam armazéns nas propriedades
Frederich Dechandt, gerente comercial da Granfinale Sistemas Agrícolas, fábrica de equipamentos para secagem, classificação, transporte e armazenagem de grãos, enfatiza que a falta de espaço para acomodar a produção é um dos principais gargalos enfrentados pelos produtores rurais brasileiros, especialmente porque os armazéns existentes estão instalados, em sua maioria, nas indústrias e cooperativas. “
Apenas 15% dos silos e armazéns estão nas fazendas. Nos Estados Unidos, como comparação, 65% dessa estrutura fica dentro da propriedade rural, onde o produtor pode estocar sua safra, secar os grãos para manter a qualidade e esperar pelos melhores preços”, justifica o gerente.
Segundo Frederich, no Brasil, o produtor se obriga a escoar rapidamente a colheita e fica refém do serviço de transporte e dos altos fretes cobrados nessa época.
“O investimento na estrutura de armazenagem e secagem de grãos precisa estar no planejamento de negócio do produtor rural, como estratégia para assegurar que a safra seja comercializada no melhor momento e com a qualidade ideal”, conclui.
Sistemas de armazenamento e secagem de grãos garantem qualidade do produto e evitam desperdício
A data
O Dia Mundial da Segurança dos Alimentos foi criado por resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2018. Em 2023, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) elegeu como tema “Padrões alimentares salvam vidas”. O objetivo da data é encorajar todos, do produtor ao consumidor, a adotar padrões de segurança de alimentos ao longo da cadeia de abastecimento alimentar e assim ajudar a reduzir as doenças transmitidas por alimentos, que são quase totalmente evitáveis.
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